O Brasil se comprometeu com uma agenda que conjuga recuperação ambiental e desenvolvimento por meio da restauração florestal.
Restaurar paisagens e áreas degradadas contribui para mitigar as mudanças climáticas, adaptar sistemas produtivos às novas condições do clima e promover a economia florestal. Para conhecer melhor esses benefícios, separamos algumas perguntas frequentes sobre o tema, que buscamos esclarecer.
Por que restaurar?
O Brasil tem uma grande quantidade de áreas degradadas que, atualmente, não são capazes de desempenhar nem seu papel ecológico nem gerar renda. São áreas de baixa produtividade agropecuária, que sofreram desmatamento e foram mal manejadas ou abandonadas.
Ao restaurar essas áreas, podemos resolver dois problemas. Ao mesmo tempo em que a restauração é uma boa medida para proteger o solo, melhorar o clima, a qualidade das águas e proteger a biodiversidade, ela também desenvolve uma economia florestal. As florestas plantadas podem gerar renda para o produtor rural com a produção de madeira de espécies nativas, de produtos não-madeireiros, como frutas, castanhas e sementes – e combater o desmatamento ilegal. Podem, ainda, estar em consórcio com produtos de mercado já estabelecido, como o café, o cacau ou a erva-mate.
Quantos hectares o Brasil precisa restaurar?
Depende do que o país quer para sua economia. Estudos da Embrapa, por exemplo, sugerem a recuperação de pelo menos 100 milhões de hectares de pastagens para promover a agropecuária aos níveis dignos do país que detém o maior rebanho de bovinos comerciais do mundo, o Brasil. Já um estudo publicado na revista científica Science concluiu que seriam necessários a recomposição de 21 milhões de hectares de vegetação para o cumprimento do Código Florestal – a lei federal 12.651 de 2012, que determina a conservação de vegetação nativa nas propriedades rurais.
A necessidade de restauração também está na agenda das políticas públicas brasileiras. O país se comprometeu, no Acordo de Paris, a restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. O Brasil também é um membro da Iniciativa 20x20, que quer promover a restauração de 50 milhões de hectares até 2030. Nessa iniciativa, alguns Estados brasileiros estabeleceram suas próprias metas: São Paulo (300 mil hectares), Espírito Santo (80 mil hectares) e Mato Grosso (2,9 milhões de hectares).
Que modelo de restauração florestal pode trazer benefício econômico para o produtor rural?
Não há um único modelo de restauração florestal. O produtor ou empresário pode escolher o modelo que melhor se adeque à sua propriedade ou suas necessidades econômicas. Há o plantio para fins ecológicos. Restaurar uma área de várzea de rio ou topo de morro, como determinado pela legislação, gera grandes benefícios ambientais para o produtor, como proteção contra erosão ou perda de água. Ou o produtor pode apostar na regeneração natural: uma área próxima de florestas tem potencial de se regenerar sozinha, bastando para isso cercar a área e deixar que a vegetação se restabeleça.
Também é possível restaurar pensando em obter retornos econômicos. Por exemplo, o produtor pode investir em um plantio econômico biodiverso. É um modelo em que o produtor restaura usando diferentes espécies nativas, de maneira intercalada. Cada espécie cumpre uma função: a colheita de frutas permite gerar renda no curto prazo, enquanto o manejo de madeira gera renda a longo prazo. Outra opção são os Sistemas Agroflorestais (SAFs). Nos SAFs, o produtor mistura plantios agrícolas com a plantação de árvores, obtendo renda primeiro das culturas agrícolas, depois do manejo de árvores para produtos não-madeireiros e por fim com a exploração de madeiras nobres.
Faz sentido restaurar para melhorar a qualidade da água?
Sim. Uma série de estudos feita por pesquisadores do WRI no Brasil e nos Estados Unidos mostra que investir em restauração florestal em áreas de mananciais pode trazer ganhos ambientais e econômicos para empresas de saneamento. Um dos casos analisados foi o do Sistema Cantareira, em São Paulo. O estudo identificou que o plantio de florestas em áreas altamente degradadas da bacia do Cantareira conseguiria reduzir a quantidade de sujeira, terra e sedimentos que escorrem para os reservatórios. Dessa forma, a água chega mais pura ao sistema de tratamento. Isso permite grandes economias para os municípios e empresas de saneamento, já que eles poderiam reduzir as despesas com produtos químicos para tratamento de água ou dragagem de reservatórios para retirar os sedimentos. Um estudo similar para a bacia do Guandu, no Rio de Janeiro, chegou à mesma conclusão.
Quais os exemplos de sucesso na restauração no Brasil?
Um dos casos mais antigos e bem-sucedidos de restauração no Brasil é o do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro. Uma restauração feita em 1860, na época do Império, e sob a justificativa de Dom Pedro II de que era preciso proteger as nascentes que forneciam água à cidade, produz bons resultados até hoje.
Atualmente, há muitas iniciativas interessantes acontecendo no país. Uma iniciativa de grande importância é o Programa Reflorestar, do estado do Espírito Santo, que destina recursos para produtores rurais que querem investir em restauração. O programa já investiu mais de R$ 60 milhões na recuperação da Mata Atlântica.
Outra iniciativa bem-sucedida surgiu em Extrema, Minas Gerais, com um programa de conservação e restauração de áreas de nascentes e mananciais. O projeto foi depois expandido, por meio do programa Conservador da Mantiqueira, para municípios em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Também no Rio de Janeiro o Programa Produtor de Água e Floresta é um exemplo de sucesso no bacia do Guandu.
Há outros países investindo em restauração florestal?
O Brasil não está sozinho no esforço de restauração. Em 2011, um grupo organizado em Bonn, na Alemanha, lançou o Desafio de Bonn, uma promessa de estimular o reflorestamento e a restauração de 350 milhões de hectares até 2030. Desde então, diversos países se comprometeram com o desafio, incluindo os Estados Unidos, que se comprometeu com a restauração de 15 milhões de hectares, e a Índia, com 13 milhões. O Brasil se engajou no Desafio de Bonn por meio do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, com comprometimento de restaurar 1 milhão de hectares.
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